Um respeitado garimpador da cultura caiçara

 

Têm pessoas que passam pela vida, outros fazem história... Histórias que podem ser pessoais, outras que podem ter influência na história de toda um município. São pessoas predestinadas, que mesmo que não tenham tal consciência vão simplesmente traçando seu destino, ao embalo da vida... mesmo que esta seja ao embalo do som carnavalesco. 
Ainda muito jovem, Sidney Martins Leme, 56, natural de São José dos Campos, decidiu mudar-se de cidade, um outro lugar o qual sentiria em seu íntimo que seria o seu verdadeiro lugar. A cidade que o recebeu de braços abertos logo chamou-o pelo nome que seria reconhecido por todos, carinhosamente Ney Martins. 

Jogador do Juvenil de São José dos Campos, logo foi fácil de fazer amizade em sua nova terra, Ubatuba, em 1964. Seu primeiro emprego foi na extinta lanchonete Bar Maré Mansa, embaixo do hotel São Charbel. Em 67, o prédio da Câmara Municipal foi reformado com a proposta de visitação ao público até as 21h; tinha que ter um recepcionista. O convite foi feito ao rapaz Ney, que trabalhou até meados de 72. Sempre ativo e pronto para criar projetos, ele organizava campeonatos de Futebol de Salão e Jogo de Malhão de Rua. Em 72, foi inaugurado o Estádio Municipal de Ubatuba, no Perequê-Açu, e Ney foi eleito por três mandatos consecutivos como presidente da Liga Ubatubense. Com a colaboração de grandes amigos, realizou feitos e eventos memoráveis. Foram realizados campeonatos com grandes clubes de futebol do país como, por exemplo, Ponte Preta, Portuguesa, juvenis de São Paulo e do Guarani Futebol Clube Paulista, que trouxe o grande atleta Careca entre tantos outros de renome que tiveram o privilégio de pisar nossos gramados. Tudo isso realizado sem grandes recursos financeiros. Antes os atletas trocavam-se no jardim e foi com muita luta que conseguiram construir os vestiários que são utilizados até os dias de hoje. O torneio de “1º de Maio” reunia todos os clubes dos bairros do município. Eles reuniam-se às 7h, quando havia um desfile civil com os atletas e estudantes segurando as bandeiras do clube, do Brasil e do município. Depois de contornar o estádio, faziam a parada oficial para o hasteamento a bandeira nacional e canto do hino de nosso país. Esta ilustre cerimônia dava início as partidas do campeonato, que durava semanas e com o estádio sempre lotado com as torcidas dos bairros. Alguns atletas até revelaram-se grandes profissionais do esporte ingressando em grandes clubes. A convite da organização, ele também teve sua participação no staff da equipe de provas Natatórias Internacionais que eram realizadas na praia Iperoig. A convite de prefeito Basílio foi secretário de Turismo e Esporte. Criou, em conjunto com sua equipe de amigos, a Copa Amizade onde participavam todo o Litoral Norte e Paraty; coincidentemente, Ubatuba quase sempre foi campeã. Em 76, foi o terceiro vereador mais votado com 212 votos. Foi quando começou a direcionar sua visão para a parte cultural da cidade. Na época só tinha um bloco carnavalesco: o “Bloco do Miguel Ageu”, assim chamado porque todos saíam da casa do mesmo. Esta parte da cultura, que eram os bois, mascarados, etc, tinha-se apagado no tempo. Então, em 11 de janeiro de 76, foi fundada a primeira escola de samba “Mocidade Alegre do Itaguá”, que ensaiava no galpão cedido por Fiovo Frediani, e que futuramente conquistou sua própria sede doada pela prefeitura, onde está até os dias de hoje. Em 78, a escola campeã do Rio de Janeiro, a Beija-flor de Nilópolis, veio para nossa avenida apadrinhar a nossa escola de samba. Depois surgiram outras duas. Foi em uma destas pesquisas para criar o novo enredo, que sempre objetiva exaltar nossa cultura, que Ney Martins iniciou sua nova paixão: a cultura caiçara. Seus olhos puderam presenciar a grande transformação que Ubatuba vive diariamente, a Ubatuba de hoje não tem muito da Ubatuba que ele conheceu. A transformação rápida fez com que ele se preocupasse em resgatar a cultura, a qual ele decidiu em sua juventude adotar como sua. Ele acha que todos que optam por morar aqui deviam fazer o mesmo. Assim, junto com Ari Matos, criou em 83 o “Viva Viola”, uma caravana da música sertaneja que visitava os bairros gratuitamente, incentivando a construção de muitas capelas. A comunidade fazia sua festa com a Xiba, Ciranda, etc., arrecadava verbas para a construção nos leilões e a caravana ia animar a festa. Posteriormente, no antigo Café Conserto, às quartas-feiras, era realizado o “Som de Viola”, onde todos os bairros vinham participar com seus artistas e fã clubes organizados. 
Quando menos percebeu, foi desligando-se dos esportes e sua vida tomara uma nova direção. Em 87, com a criação da Fundart ele foi convidado a cuidar da parte folclórica e cultural do município. Desde então seu respeitado trabalho de resgate tem sido apoiado por todas as presidências que por lá passaram. Trabalho este que realiza com muita dedicação e sempre com grandes projetos junto a toda comunidade caiçara, que irá garimpar até os últimos dias de sua vida.