Dª Maria Balio, vereadora durante 13 anos

 

Nascida em 9 de junho de 1914 na praia da Justa, região norte do município, a menina Maria das Dores Balio Fava, 88, mal podia imaginar o seu destino. Sua mãe faleceu logo cedo e então ficou aos cuidados de seu tio. Ao completar 10 anos de idade, seu pai buscou-a para ir morar na cidade e matricular-se no grupo escolar Dr. Esteves, pois era a única escola da época. Foi lá que ela completou o quarto ano de grupo, como chamavam naquela época. Já com o diploma na mão, lecionava para 1ª e 2ª séries, só que na hora de receber um professor era quem assinava o ponto, pois ela ainda não tinha idade suficiente para receber.
Em 1930, seu pai se mudou para Maranduba com toda a família. Foi lá que teve seus primeiros namoricos, casou-se em 1936 e teve seu primeiro filho. Na época Mariazinha, como sempre foi carinhosamente chamada por todos, costurava e na comemoração do III Centenário de Ubatuba, em 37, ela recorda-se de ter confeccionado inúmeras roupas de cama para o Hotel Idalina Graça, que ficava ali na praça, pois era ele quem receberia as autoridades. Logo após as comemorações, seu marido recebeu a nomeação de vigilante da Ilha Anchieta, onde ela morou com ele e tiveram sua segunda filha. Depois, ele foi carcereiro e posteriormente resolveu mudar-se para o Sertão da Quina para ajudar seu pai, João do Prado, no engenho, onde com o passar dos anos foi assassinado. Mariazinha ficou com seus oito filhos, grávida do próximo. Seu filho mais velho tinha 11 anos. Então foi obrigada a vender o Engenho. Seu pai quis recolhê-la na casa da cidade, onde voltara a morar, mas ela achou melhor não: tinha filhos demais e, diferente da cidade, iam para a escola e eram criados como se podia.
Com autorização da Capitania do Portos, ela construiu uma casinha na beira da praia. Lá ela costurava, fazia doces para vender e lavava roupas dos trabalhadores que naquela época, em 50, estavam construindo a estrada. Ela se recorda que não tinha nem telefone, era só telegrafo e de Paraty a Santos só tinha duas linhas: uma na Justa e a outra em Maranduba.
Sempre esteve envolvida com a vida social do povoado local, fez com que todos unidos reconstruíssem a igreja derrubada por um comerciante, ajudava seu pai na distribuição de lanches para os mais pobres, festas comunitárias na igreja. Ela é a prova viva que a união faz a força.
Um dia, Virgínia Lefreve a convidou para lecionar na Caçandoca, em 56. Ela diz que seu primeiro dia de aula foi em 1º de abril, e quando ela estava indo para dar sua primeira aula, o cavalo caiu com ela em uma ponte. Ela chegou ao local a pé, mas quando contava a história verdadeira, ninguém acreditava. E nos anos que se seguiram ela ia a pé em uma caminhada de uma hora.
Ela diz que sua casa sempre foi um lugar onde ia muito político, pois sempre foi cabo eleitoral, até os dias de hoje. E um ano depois o prefeito José Fernandes lhe ofereceu condições para montar uma escola mais perto, no Sertão da Quina. Esta foi montada com muitas dificuldades, um prédio velho, caindo ao pedaços, que foi ajeitado. Para chegar até a escolinha tinha que atravessar um rio que muitas vezes, quando chovia durante a aula, ela voltava com água na cintura e puxando os alunos.
Em 1956, o Dr. Alberto Santos fez o convite para ser vereadora, o mesmo que depois resolveu injustamente cassar meu mandato sem sucesso. Em sua primeira disputa, foi eleita com 200 e poucos votos, assim ela elegeu-se vereadora durante 13 anos consecutivos, nos governos do Dr. Alberto Santos, Wilson Abirached e Ciccilio Matarazzo. Naquela época, os vereadores não recebiam. Sua vida foi uma luta para criar seus filhos e estar em dia com a vida pública.
Construiu as escolas do Sertão da Quina, Tabatinga, Lagoinha e da Maranduba, que hoje recebe o nome de Virgínia Lefreve, esta última por intermédio de um pedido seu a um deputado estadual.
Seu segundo esposo sempre a apoiou até o fim de seus dias. Ela criou 14 filhos, sendo duas de criação. Hoje, apenas sete permanecem vivos. Dona Maria Balio aposentou-se no Centro de Saúde. Sua casa sempre esteve aberta à comunidade, já foi até sede da casa paroquial, lá freqüentavam políticos importantes e médicos. Ela é uma mulher inusitada, dona de grande experiência de vida, guerreira e tem uma memória invejável. Lamento não ter aqui espaço para descrever parte se sua história, a qual tive o prazer de saber por sua própria pessoa, porém se eu fosse fazê-lo este jornal tornar-se-ia um livro.