Trilha dos Escravos, um portal para o passado!

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Estamos dentro da hoje UDTU (Unidade de Desenvolvimento Tecnológico de Ubatuba), localizada na rodovia Oswaldo Cruz, 5061, que há bem pouco tempo chamava-se IAC (Instituto Agrônomo de Campinas), hoje denominado também de APTA (Agência Paulista de Tecnologia de Agronegócios), ambos pertencentes aos mesmos 427 hectares que no passado foram conhecidos como Estação Experimental de Agronomia de Campinas, carinhosa e popularmente conhecida como Horto Florestal, apesar de não ter esta finalidade. 
A UDTU tem a finalidade de fazer novos experimentos que venham a contribuir para o futuro sustentável do país. Administrada pelo Dr. Gentil há muitos anos, sentiu-se a necessidade de aproximar a população para conscientização do privilégio e cuidados de nossa mata, assim como a preservação da memória de nossa vida histórica. Como a moda é ecologia, há pouco tempo foi aberta ao público a possibilidade de visitar as diversas trilhas que existem no local através de guias especializados. Assim, nesta edição, estamos apresentando a Trilha dos Escravos. 
Após aproximadamente uns 45m de passarmos pela trilha denominada “Trilha Aberta”, iniciamos o percurso de aproximadamente duas horas e meia de uma caminhada de situações inesperadas, traçando o mesmo trajeto dos escravos em busca de resquícios de uma ruína que só nossa imaginação poderá reconstituir e que o passado abandonou no tempo e espaço em plena Mata Atlântica. 
Acompanhados por Rosendo, 64, caiçara e profundo conhecedor dos segredos da natureza, começamos os primeiros passos dentro da mata totalmente cerrada. Logo, o primeiro aprendizado: o Jaborandi. Ao colocarmos sua raiz na boca, ela amortece o local tocado. Antigamente era usada para aliviar as dores de dente. 
Com 20 m de percurso, localizamos no emaranhado da vegetação um pé de café, prova viva que o homem já esteve por lá. Ele nos faz perceber os rastros de tatus muito comuns nesta época do ano, pois estão preparando-se para o acasalamento que deve iniciar no mês seguinte, assim tornando-se um tanto agitados. É possível também cruzarmos pelo caminho com cotias, pacas, cachorros-do-mato e até irara. Os pássaros são de rara beleza. Os sons de jacus, macucos, nhambu-guaçu, sabiás-laranjeira, tangarás e outros são identificados pelo nosso guia que nos conduz para a interpretação dos distintos cantos. Flores, borboletas azuis, chuvas de cipós e, principalmente, plantas medicinais como, por exemplo: caninha-do-brejo (dor de rim), limãozinho do mato (para tosse), pariparoba (intestino preso, bexiga e rim), carobinha (alergia), dentre muitas outras, são comuns no nosso ecossistema. Porém, se não tivermos uma orientação, aos nossos olhos elas não passarão de apenas uma bela flora. 
Com cerca de 45m de caminhada, chegamos ao pico mais alto do tranqüilo trajeto, 180m. A vegetação muda quase que por completo. Os pés de palmitos nativos, o Jussara, sofreram e sofrem agressão por parte do homem. Assim os pássaros que até o momento observamos parecem sumir quase que por completo, pois o Jussara é grande atrativo para eles. Porém podemos observar árvores centenárias, as madeiras de lei tão grossas e esplendorosas que nos deixam embasbacados com tamanha beleza. Têm raízes que há necessidade de até três a quatro homens para abraçá-las. Assim são o Angelim, Tapiá, Jequetibá e inúmeras outras. 
Ouvimos um som, é da Cachoeira do Ouro. Logo nos aproximamos e, com um copo improvisado pela folha de caeté, saboreamos as águas límpidas da cachoeira que nesta hora, após uma longa caminhada, tem mesmo valor de ouro! 
Mais uns passos e estamos defronte aos paredões dos resquícios das ruínas dos escravos; uma delas chega a ter mais ou menos uns 4m de altura e 10m de comprimento. Algumas telhas coloniais também encontram-se soterradas nos relembrando do famoso termo: “Feito nas coxas”. Para quem não sabe, as telhas coloniais eram feitas na coxa de um só negro (por isso seu formato), quando para a casa da fazenda. Quando era para cobrir a casa dos escravos eram feitas “nas coxas” de vários negros, assim tornando-se irregular e de encaixe imperfeito, ou seja, eram “feitas de qualquer jeito”. 
Podemos observar também que todas as ruínas da época eram construídas próximas a cachoeiras ou lugares de água, possivelmente era para desenvolver a tecnologia dos monjolos e aquedutos. Esta localiza-se nos arredores da Cachoeira do Ouro, que a longa distância irá unir-se a Cachoeira dos Macacos. Mas esta é outra história... 
A trilha termina do outro lado da UDTU. Esta é uma das poucas trilhas em Ubatuba que não retorna pelo mesmo percurso, por isso, os momentos devem ser rigorosamente aproveitados. 
Os interessados em agendar o passeio poderão entrar em contato através do telefone: (12) 3832-1291/1643, falar com Marcelo. Grupos de até sete pessoas pagam o valor de R$ 30,00; grupos de dez pessoas R$ 40,00 e acima deste número requer outro guia acompanhando.