     
A praia da Lagoinha
A praia da Lagoinha fica
na região Sul de Ubatuba, ao lado da Maranduba. É um lugar de muitas histórias e de
moradores antigos, que viveram tempos interessantes no contexto da cidade. Chegamos à
praia e encontramos Bili, um nativo do local, de 26 anos, que sabe de muitas dessas
histórias e nos contou como era a vida naquela época. Ele foi criado pela sua avó, D.
Arnaldina, que ainda é viva, com 80 anos hoje. Na praia, as bananas trazidas pelo pessoal
do corte, que vinham da Praia Grande do Bonete, eram desembarcadas. De lá, saía de
caminhão para São Paulo, Santos, São José dos Campos e demais cidades do Vale do
Paraíba. Quem fazia as negociações eram "seu" Adelino, já falecido e o
"seu" Virgílio, que ainda é vivo. Era a década de 60. Nesta época, quase
todos da região viviam exclusivamente da pesca e do corte de bananas. "Lembro que
minha avó cortava banana também", diz Bili. "Ela descia o morro com 5 ou 6
cachos e uma foice na mão." Dona Arnaldina tinha 11 filhos, todos sustentados com
essas atividades. O escambo era corriqueiro na época. Trocava-se terra por peixe, terra
por terra, por banana. E assim se vivia. Naquela época, quem precisava de alguma
assistência médica tinha
de sair de barco a remo até a ilha Anchieta, onde os médicos e dentistas do presídio
atendiam ao público, pois a cidade era muito longe o que tornava impraticável a ida até
lá. "Saiam de barco e, se vento estivesse a favor, eles usavam um tapete caiçara
como vela. Se o vento estivesse contra, tinha de ser no remo mesmo." Quando tinha de
ir à Ubatuba, D. Arnaldina saía a pé pela Rio-Santos às 6 horas da manhã e retornava
por volta das 3 da tarde. As aulas eram dadas pela D. Maria Balio, que vinha da Maranduba
a pé para lecionar, e é uma das figuras que marcaram a história do lugar, alfabetizando
a maioria dos moradores da época. As aulas abrangiam até a 4ª série do primeiro grau.
A diversão ficava por conta das festas promovidas quando os produtos eram negociados,
principalmente os produtos da pesca. À noite, chegavam os convidados, que já encontravam
tudo pronto. "Rolava a festa, bate-pé, forró, tudo. Quando a pilha do aparelho de
som acabava, eles cozinhavam para recarregá-la e a música rolava de novo à noite toda.
Algumas vezes, amanhecia o dia e emendavam, continuando no domingo", lembra Bili. O
nome Lagoinha surgiu por causa da barra do rio que lá deságua que era bem larga,
formando uma pequena lagoa.Existia também criações de bovinos, nas fazendas da região.
Existiam as fazendas do Mar Virado e a da Ruína. Como o lugar era praticamente deserto,
as vacas e bois passeavam tranqüilamente pela praia. Da praia da Lagoinha dá para
avistar a ilha do Pontal, que fica a uns 3Km de distância e tem uma pequena praia; a ilha
da Maranduba, quase totalmente escondida pelo morro, que também tem uma prainha; a praia
do Pulso e Caçandoca, onde moravam muitos escravos, o Saco das Bananas e a Ponta Grossa.
A Lagoinha tem aproximadamente 3Km de extensão e termina ao lado de um camping. Hoje
existem vários condomínios fechado, que dão acesso à praia. O acesso é livre ao
público e quem visitar esta linda praia e as que a circundam, poderá ter um contato
muito próximo entre um passado sofrido dos caiçaras pescadores e cortadores de banana e
a exuberante Natureza que emoldura o local.

Canto esquerdo da praia da Lagoinha. Acima,
o canto direito Um barco de pesca da praia da Lagoinha, que prossegue com a pesca
tradicional do lugar

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