Genézio 76 anos de história gravados em um descendente
quilombola 
Sabedoria e vivência são sinônimos do descendente quilombola Genézio
dos Santos, 76 anos. Nascido e criado no Camburi, homem de muitas vidas,
sobreviveu a um naufrágio aos 17 anos durante um dia inteiro, sendo
levado pela correnteza contra a costeira; superou nove internações e uma
pneumonia, em 99. Mas nada disso impede o homem que tem sede e fome da
sua bandeira brasileira, de palestrar a todos que o procuram para
relatar tudo que os seus olhos já viram...
Procurado por grupos de historiadores, turistas, escritores e repórteres
de lugares diversos, o senhor Genézio é reconhecido até no exterior. Já
esteve até no Senado, em Brasília, acompanhado pelo senhor Inglês, 68
anos (também caiçara, morador do bairro) através do Projeto Martim
Pescador, há dez anos.
Descendente do mestre Basílio, quilombola, o senhor Genézio diz ter
nascido em berço de ouro, pois a fartura que a mãe terra oferecia na
hora da colheita era a maior riqueza que um homem poderia almejar.
Plantavam-se banana, batata doce, mandioca doce, inhame, taiova, milho,
cana, que eram usados tanto para consumo próprio quanto na alimentação
dos animais domésticos, como porcos e galinhas. O homem naquela época
pescava seis meses, semeava e cultivava outros seis meses. A liberdade
do homem era o trabalho, até onde o suor e a força braçal suportavam.
Ele diz que o progresso é bom, mas tem um preço, pois o rio antes
navegável que servia de agasalho para os peixes, hoje com a rodovia
Mário Covas virou um mangue pobre e assoreado. A natureza que tudo dava,
hoje somente pode-se olhá-la e apreciá-la. Movido pela fé, ele acredita
que chegará o dia em que os governantes hão de olhar para o Camburi,
ponto final do estado de São Paulo, onde a luz elétrica, a estrada e
tantas outras reivindicações são o maior objetivo. Acredita que com esta
estrutura possa organizar melhor a vinda de turistas, que hoje usam a
praia para acampar, ao invés dos camping (na baixa estação) não pagando
nada por isso. Ele gostaria de uma orientação de quem tem o conhecimento
de outras fontes de renda, porque com 76 anos não tem mais a força de
antes e só da fé não consegue seu alimento, pois tudo que aprendeu
durante toda sua vida foi naquela praia que hoje só lhe serve para
contar histórias.
O senhor Genézio fundou, em 1967, o cemitério de Camburi, pois antes os
corpos eram levados para o Ubatumirim. Ele fala que naquela época caixão
era coisa raríssima, todos eram enterrados em redes e sete palmos da
terra. Seus olhos também testemunharam e o fazem, o aparecimento de
diversos OVNI’s (Objetos Voadores Não Identificados) na região.
Pai de sete filhos de criação, ele deixa uma mensagem aos jovens: “que
escutem o conselho e a obediência e sinceridade de todos os familiares,
para que cresçam com a mensagem do bom caminho conseguindo na vida
adulta o conforto da vida espiritual ao lado de Deus quando perderam o
fogo da vida aqui na face da Terra.
|